Como se manter criativo num mundo em completa desordem – Por Ariane Freitas
Quando a Adobe me convidou para uma colaboração, duas coisas invadiram meus pensamentos: primeiro, uma alegria doida porque, convenhamos, quase tudo que eu crio hoje começa aqui. Segundo porque estou numa fase bem positiva quando o assunto é Criatividade. O que não significa que eu tenha as respostas, pelo contrário, mas que tenho me questionado cada vez mais. E é uma delícia.
Antes de tudo: prazer, sou Ariane Freitas Lovemaltine, pela internet afora. Sou escritora, ilustradora e criadora de conteúdo que é a expressão que a gente usa quando é podcaster, streamer, blogueira… ahahaha. Enfim: vivo de criar na internet há mais de doze anos e, por isso, já acompanhei muitas reviravoltas e reinvenções por aqui.
Uma das perguntas que mais recebo nos últimos tempos é Como se manter criativo?. O mundo vive momentos difíceis e, com tantas informações disputando espaço em nossas mentes, fica mesmo complicado esperar que a inspiração se alinhe magicamente com o Universo para nos fornecer algum conforto e sermos finalmente capazes de criar. Mas a pegadinha é essa: não existe esse alinhamento mágico. A inspiração precisa nos encontrar trabalhando. Não fui eu quem disse, foi Pablo Picasso.
Por muito tempo acreditei que, se não tivesse a ferramenta ideal, o lugar ideal, o sistema ideal, não seria capaz de fazer nada. Tinha que escrever numa fonte específica, num tamanho certo, sentada sempre no mesmo lugar. Só desenhava no papel. Eu me convenci de que minha mesa digitalizadora, por exemplo, não era suficiente “Nunca vou ter coordenação motora para usá la”, repetia, tendo tentado só uma vez. E, sem tentar de novo, não tinha como conseguir mesmo. O que é irônico, pois “Ar e luz e tempo e espaço”, de Charles Bukowski, é um dos meus poemas favoritos. E ele diz, sem meias palavras: todas essas condições ideais que a gente impõe para criar não servem de nada, a não ser novas desculpas pra gente deixar tudo pra depois.
É preciso estar disposto a criar em meio ao caos. Não me entenda mal sei da importância de cuidar da nossa saúde mental e de não romantizar situações insalubres. É absolutamente normal termos nossos pequenos rituais e processos criativos. O que não podemos é transformálos em empecilhos e limitações. Quando falo do caos, falo do mundo de fora. Aquele que foge ao nosso controle e que nem sempre vai parecer favorável. A gente pode criar apesar dele. Criatividade é um músculo, e ele só cresce se você exercita. Daí vem uma conclusão óbvia: a minha arte só começou a evoluir quando decidi que faria o melhor com o que tinha em mãos. De repente, a ferramenta que eu dizia ser impossível de dominar se tornou minha melhor amiga. Não teve magia: o resultado só veio com muita insistência e treino. Dificilmente você vai andar de bicicleta sem levar uns tombos antes, né? Enquanto tivermos uma desculpa que nos impeça de tentar, não vamos mesmo sair do lugar.
Você consegue fazer o seu melhor com as ferramentas que você tem. E tá tudo bem se sair com alguns arranhões. Para chegar aonde sonha, vai ter que continuar pedalando. Algumas viagens serão incríveis, outras tediosas. De vez em quando, você não chegará a lugar algum. Continue. Faça algo todo dia. Não precisa ser uma obra de arte, nem tudo o que você criar será bom. Mas tudo é parte de um processo importante para exercitar os músculos da sua imaginação e te levar aonde você nem sonhou chegar.
No meio do caminho, para recarregar as energias, veja filmes, leia, observe o mundo e escute o que as pessoas têm a te dizer. Repertório é essencial. Suas experiências geram uma bagagem que vai te ajudar a enxergar formas diferentes de criar e resolver problemas. Sabe aquele lampejo de inspiração no banho, ou na hora em que você se deita na cama? É a sua cabeça organizando tudo o que você consumiu ao longo do dia. Nunca vem do nada se você não alimentar sua mente, não tem como ela produzir coisas inéditas.
Por fim, não deixe de cuidar da sua saúde física e mental fazer exercícios, dormir e se alimentar bem são hábitos essenciais. Seu corpo é seu lugar no mundo, é ele que te permite fazer o extraordinário. Observe o ambiente que te cerca, escolha quem vai ocupar esse espaço. Quando você acompanha profissionais que admira e a aprecia seu trabalho, sem se comparar, você ganha perspectivas e propósito. Entendo que estamos num momento desafiador em todos os aspectos e é muito complicado gerar mais uma cobrança para nossas vidas já tão atribuladas. Essa não é a intenção desse texto. O mundo nem sempre vai parecer um lugar confortável, mas quero te lembrar que ainda existe alento na arte e que você pode aproveitar isso agora. Tente.
Continue criando. Ser criativo é o máximo.